E o Corpo não parava:
- Eu vou confessar uma coisa. Não vá pensar que sou hipocondríaco, você sabe, essas pessoas que só pensam em doença. Mas fico sempre preocupado, achando que vou pegar alguma doença. É que meu dono não quer saber de limpeza. Higiene? Acho que ele nem sabe o que é isso! Está cansado de ouvir para não esquecer de lavar as mãos depois de ir ao banheiro e antes de comer. Isso é indispensável para não deixar chegar até a boca os micróbios que se pega por aí ou aqueles que o próprio organismo expulsa no cocô e no xixi _ ops, desculpe, quer dizer, nas fezes e na urina.
E dá-lhe reclamação:
- Lavar as mãos e tomar banho também! Eu fico tão satisfeito. A sujeira que se acumulou no dia _ tanto a que está mais evidente quanto aquela que nem se vê _ vai embora e minha pele suspira aliviada... Mas tem dias que nem sei o que é sabonete! Pasta de dente, então! Claro que meu dono sabe que se deve escovar os dentes depois de comer, para que fiquem limpos e livres dos ataques das cáries, mas ele vive esquecendo. Escovar sempre os dentes me ajuda a escapar de algumas "torturas". Porque, francamente, nem sei dizer o que é pior: dor de dente ou o motorzinho que o dentista enfia na boca da gente? Uuuuuuii...
De repente, sem mais nem menos, o Corpo parou de falar. Começou a abanar a cabeça, desconsolado. O funcionário não sabia o que fazer: perguntou o que ele tinha, se precisava de alguma coisa. Depois de uns segundos em silêncio, o Corpo disse:
- Com tudo o que eu contei, o senhor acha que é muito difícil me deixar feliz? Acha que sou muito exigente? Preciso de tão pouco para ficar contente... Estou cansado dessa vida, está até me dando um soninho...
O Corpo foi escorregando, escorregando, e antes que o funcionário pudesse impedir, começou a tirar uma soneca ali mesmo!